segunda-feira, 22 de março de 2010

Big Brother Brasil

     Nas últimas semanas, uma pergunta tem me feito pensar um pouco mais a respeito de alguns valores. O que, afinal de contas, faz um simples ser humano “merecedor” de um milhão e meio de reais? Se fosse na vida real, a resposta seria “estude, trabalhe, sacrifique ou roube muito”. Mas dentro de um reality show como o Big Brother Brasil, quais são as regras, ou a fórmula mágica para transformar uma pessoa comum em um milionário?
     O jogo tem suas regras, fato. Mas a cada edição, venho me surpreendendo com os resultados dos paredões. Deixando de lado as especulações sobre resultados manipulados, ou que são os Editores do programa que promovem um provável vencedor, vamos supor por um momento que foi realmente o público que “escolheu” o novo milionário, novamente volto a pergunta: por que o público achou que fulano ou beltrano fosse merecedor, ou melhor que os outros participantes?
     Vence o mais “gente boa”? O que teve a história de vida mais difícil? Ou a mais gostosa e o mais sarado é que vão pra final? Em cada edição vi diversos resultados acontecerem, cada vencedor foi eleito por motivos diferentes. O Big Brother então seria um golpe de sorte, em todos os sentidos? Ou os resultados refletem os valores e a mentalidade das pessoas que votam, e com isso, se dá um raio-x da cultura de uma parte da população?!
     Estou assustada. Se o que penso é correto, então socorram-me dos votantes do BBB. Confesso ser uma das hipócritas que falam mal do programa, mas assistem, como 99% das pessoas que dizem odiar o reality. Por que assisto? Sinceramente, não sei. Poderia mudar de canal, ler um livro, ou ir dormir. Por que critico? Porque nunca me interessei mais que o suficiente pela vida alheia, muito menos as de pessoas que nunca vi mais malhados. Não consigo compreender porque as pessoas idolatram artistas e pessoas que aparecem na televisão. Claro que há artistas que admiro, assim como há pessoas que não tem nada a ver com a fama, e mesmo assim são merecedoras de reconhecimento, mesmo que sejam entre seus vizinhos ou colegas de trabalho. A fascinação que os meios da mídia confere à ilustres desconhecidos (porque todos o foram um dia), não me absorve. Não critico quem chora quando vê o ídolo, grita, esperneia, gasta dinheiro porque fulana anunciou um produto, gasta dinheiro votando em um programa como o BBB. Só não compreendo. Para mim são pessoas comuns, fazendo um trabalho que as coloca em evidência por algum motivo.
     Mas de volta ao Big Brother, a questão é: se aquilo é um jogo, que possui regras, obrigações, deveres e prazeres, na verdade é um jogo de quê? A principal condição do jogo está implícita, mas oculta o tempo todo. O participante deve ser bonzinho com todo mundo? Deve se manter calado e quieto, guardando pra si o que pensa de verdade? Ou deve ser o extrovertido, o que arrasa nas festas, bebe todas, forma casal e se bobear, faz até swing debaixo do edredom?! A princípio, todos dizem que se deve ser transparente, sincero e não falar mal dos outros. Quem ali, em sã consciência (ou não) não fala mal do outro? E depois agem como se nada tivesse acontecido, são amigos para sempre de novo. Quem é capaz de desafiar as câmeras e ainda sair com a imagem “limpa”? Truques da edição?
     Acho engraçado quando em dia de votação, todos levam tudo pro lado pessoal, sendo que eles sabem, desde o princípio, que todo mundo TEM que votar em alguém! Todo mundo TEM que fazer escolhas, todo mundo TEM que ser sacrificado um dia. Citando o participante Dicésar dessa edição, no início, o tinham como preferido ao prêmio, mas de uma hora pra outra, os outros participantes implicaram que ele TINHA que tomar partido de um dos lados e deixar de ser “gente boa” com todo mundo. Mas espera aí! Quem disse que nas regras consta que ele TINHA que tomar partido de alguma coisa em primeiro lugar, e sendo que um dos pré-requisitos implícitos em todas as edições, era de que o vencedor TINHA que ser bonzinho com todo mundo, ou bancar o politicamente correto?! Isso me soa mais que uma grande contradição!
     Lá dentro, ninguém TEM que fazer nada. Fazem o que querem, agem como querem, e depois arcam com as conseqüências, que na maioria das vezes, vem aliada com a grande sorte ou o grande azar de cada um. A meu ver o vencedor necessita muito mais de sorte do que de coragem, determinação ou uma boa cirurgia plástica. Sorte nas provas, e sorte se a verdade do público votante vai estar condizente com a dos participantes votados da semana. O público oscila a cada dia a respeito de seus julgamentos. E afinal, o que é o Big Brother senão um circo? Não de horrores, mas de palhaços, todos se expondo a troco de fama, dinheiro, “reconhecimento” e “autoconhecimento”.
     São todos gente boa pra alguém. No mundo deles, fora da casa, são pessoas comuns, com qualidades e defeitos, como qualquer outra. São amados, odiados, tem seus traumas, suas histórias. São merecedores de um milhão e meio. Mas todos somos merecedores, SE formos nós mesmos durante três meses em uma casa exposta em rede nacional?! E quem garante que lá dentro são eles mesmos, se aqui fora a vida rompe e se dá da mesma forma, mas sem câmeras? Um dia a máscara de todo mundo cai. E desde quando ser nós mesmos nos faz merecedores de um prêmio? Isso não deveria ser uma obrigação moral com nossa própria consciência? E em segundo, um dever com as pessoas que amamos, e a que somos fiéis? Talvez por ser tarefa tão difícil no dia-a-dia, o criador dessa idéia do reality show achou que dar dinheiro a alguém por isso fosse uma grande recompensa.
     E é isso que me assusta. O fato de que estou percebendo que o público gosta mesmo é de “ver o circo pegar fogo”. Não ganha o prêmio o mais honesto, o mais íntegro, o mais correto. Ganha o mais polêmico, o melhor “jogador” (ou manipulador). E ISSO merece alguma recompensa em que mundo, meu Deus? Se os valores das pessoas estão tão distorcidos, eu nem sei o que dizer, sinceramente. A vontade que dá é de jogar a toalha, me voltar pro meu mundinho, criar meus filhos como acho que devo, e dar o meu melhor. Viver a minha vida sem pensar a respeito do que andam pensando as outras pessoas. Fingindo que não noto que tem um bando de gente pelas ruas que em um programa como esse, vota a favor de pessoas que a meu ver, repito, são na maioria, vazias, preconceituosas e manipuladoras.
     Mas por outro lado, quem não é em algum momento? Infelizmente, não posso afirmar que nunca almejei ser linda, gostosíssima, turbinada e desejada pelos homens; nem dizer que nunca tive nenhum tipo de preconceito ou que nunca manipulei, mesmo que com classe, alguém, ou alguma situação. Várias pessoas criticam o Pedro Bial quando se refere aos participantes como “Heróis”. A questão é que pelo ponto de vista dele, os participantes o são. Por estarem ali, dando a cara a tapa, se expondo e modificando o rumo de suas vidas. Mas por esses motivos, todos o somos. Heróis do dia-a-dia, no trabalho, em casa, com as pessoas, com as mazelas da sociedade. Todos combatemos o pior dos inimigos, vinte e quatro horas por dia, que é nós mesmos. Vencer a si próprio é que o grande desafio diário. Controlar os pensamentos, ponderar as atitudes. Ter moral, ser honesto, não pegar a borracha quando o coleguinha não estava olhando, não voar na jugular do funcionário do estabelecimento que te tratou mal, não gastar horrores de dinheiro com coisas supérfluas. Não fazer o que é mais fácil pra nós mesmos. Não ter medo. Tomar sempre as decisões certas. Esses são nossos desafios. Sermos pessoas melhores que fomos ontem. Isso deveria dar um prêmio, e dá. Não um milhão e meio de reais, mas garanto que um sentimento enorme de felicidade.
     A questão é que tudo na vida depende da verdade do réu e do júri. Cada um tem a sua, mutável, inconstante, como deveria ser. Aqui na vida real, assumimos o papel de ambos. E é extremamente difícil e delicado o papel de julgar. Sermos julgados, mais ainda, pois apontar o erro alheio é fácil, mas aceitar o próprio... Quem vai me dar um milhão e meio de reais se todo mundo também o quer?

2 comentários:

Penélope Luz disse...

:-) Eu te dou dez milhões e meio por esse post... :-) Está perfeito. Nada a acrescentar...

Concordo com tudo que escreveu, só não posso dar detalhes sobre essa edição do programa, porque já fez uns 5 anos que não o assisto, mas assisti no passado. Pelo que ouço por aí, tudo continua na mesma, se não um tanto pior.

"Não de horrores, mas de palhaços, todos se expondo a troco de fama, dinheiro, “reconhecimento” e “autoconhecimento”."

É precisamente o que isso é... Vc resumiu tudo nessa frase... Enfim, ainda gosta-se de pão e circo. O mundo mudou, os milênios passaram, mas nossa mentalidade não mudou muito de Roma até hoje. Ave, Globo! :-)))

Um beijo, minha linda, e parabéns pelo texto! Vc é extraordinária! :-)

Nhá. disse...

Tchutchuca, vi no seu Facebook que a "senhoura" tb escreve,assovia e chupa cana???? Que lindo!!!
Eu tb tenho alguna brog´s...várias fases,hehehe, se quiser conhecer...
www.efalaqueeuteescuto.blogspot.com
www.depoisescrevoevocenaole.blogspot.com
www.batomeferidas.blogspot.com
www.tiajuca.blig.ig.com.br (áureos tempos)

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Pensamento

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." (Drummond)